Ao ler o testemunho desta mãe, no jornal Público, foram várias as reflexões que nos surgiram. No fundo, a utilização das novas tecnologias tem sido um tema ao qual nos temos dedicado e proposto reflectir.

Sabemos as mais-valias que elas nos trouxeram; se assim não fosse, não estaríamos aqui hoje a partilhar convosco as nossas opiniões. Mas sabemos, também, que quando mal utilizadas, as novas tecnologias podem acarretar consequências menos boas para a nossa vida.

Nas palavras desta mãe, é relatada a experiência do filho que, aos poucos, foi deixando a sua vida em prol de um jogo on-line. Começa com alguns sinais, parafraseando a mãe: «ele ia estudando, mas sempre com o computador aberto ao lado e, de vez em quando, lá ia mexendo nas teclas». Uma mãe atenta, que foi percebendo que aos poucos o filho dedicava-se e investia mais tempo do seu quotidiano no jogo, na internet, no computador do que nas actividades ditas “normais” de um jovem.

Afinal, será que a vida como nós a conhecemos, feita de experiências pessoais e vividas no mundo real, começa a perder terreno para uma vida feita e construída on-line? Onde se impõe a barreira entre o uso saudável das novas tecnologias e o abuso das mesmas? Em determinado momento, a mãe relata que o filho empenhava-se de tal modo na participação no jogo, ao ponto de verbalizar: «espera aí um bocadinho que eu não posso morrer».

Não estaria este jovem a comprometer a sua vida, em prol de “não morrer” num jogo? Deixar de participar nos momentos familiares e de frequentar a escola, prejudicar o sono e a alimentação, não serão também indícios de que se “morre”, mas na vida real?

Tudo isto nos faz questionar: que jogos são estes, que se tornam tão aliciantes ao ponto de substituírem uma vida real? Porque parece ser, às vezes, mais fácil empenharmo-nos e dedicarmo-nos a ultrapassar obstáculos no mundo virtual, quando há um dia-a-dia real para plantar sementes e colher frutos? Que investimento é este na vida on-line que apaga a dedicação na vida real?

Um testemunho duro, que vale a pena ler. Pois como este jovem, muitos outros podem encontrar-se na mesma situação. Porque como esta mãe, muitas outras podem debater-se com as mesmas questões.

Andreia Cavaca

Andreia Cavaca

Directora Clínica | Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
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"Uma mãe atenta, que foi percebendo que aos poucos o filho dedicava-se e investia mais tempo do seu quotidiano no jogo, na internet, no computador do que nas actividades ditas “normais” de um jovem."