Um estudo recente, publicado no The American Journal of Psychiatry, conclui que os efeitos nocivos do bullying podem estender-se ao longo da vida, permanecendo “vivos” mesmo após décadas e condicionando o bom funcionamento de áreas como a cognição, a aprendizagem, a saúde física e a interacção social.
Para este estudo, foram seguidas cerca de 8 mil crianças, durante cinco décadas, tendo como objectivo perceber como é que as crianças que sofreram bullying se encontravam, enquanto adultas.
Os resultados demonstraram que a capacidade de enfrentar as dificuldades, promover oportunidades, lutar por aquilo de direito estavam bastante comprometidas nos adultos que, em criança, foram intimidados.
Segundo o investigador Louise Arseneault, parece que permanece a sensação de ser “deitado abaixo” e que tal pode ter provocado uma espécie de hábito: se até aqui não foi diferente, porque será agora? Parece que foi interiorizada a crença de que não há hipótese de se sentirem integrados e respeitos pelos outros e que, por isso, têm que se contentar com o lugar que foi destinado.
Embora estas conclusões sejam referentes a uma época em que o bullying estava circunscrito ao ataque presencial, talvez seja importante reflectir que, hoje em dia, o bullying não está apenas na escola: também entra em casa, pela internet.
Por tudo isto e por cada vez mais o bullying surgir com novas facetas, é fundamental que os pais possibilitem às crianças um espaço de diálogo aberto, seguro e de confiança. As crianças e jovens precisam de sentir que não há problema nenhum em partilhar como se sentem, em chorar se for preciso, em ficar triste, em zangar-se também.
Mas, acima de tudo, precisam de saber que os pais estão atentos e disponíveis para tomar uma atitude, no sentido de as defenderem. Esta crença de que os pais são fortes e que estão lá para proteger permite que, progressivamente, as crianças se sintam mais confiantes e seguras de si mesmas.
Embora seja possível “resolver” as questões do bullying a seu tempo, não se pode descurar que os efeitos podem perdurar e, em alguns casos, invalidar a possibilidade de uma boa qualidade de vida e um bem-estar adequado.
Talvez seja tempo para pensar não apenas nas consequências imediatas do bullying, mas nos efeitos a longo prazo, tornando-se fundamental uma intervenção adequada nesta problemática, de modo a permitir que, aquando adultos, a criança intimidada dentro deles tenha ganho força para enfrentar os medos e receios.