Os filósofos costumam dizer que morremos sozinhos mas, podemos morrer mais cedo se vivermos uma vida pautada pela solidão.

Segundo estudos recentes, uma boa rede social marcada por relações próximas com familiares e amigos pode induzir uma melhoria no bem-estar e evitar uma morte prematura.  A solidão surge como um factor de risco para a diminuição da qualidade de vida em adultos com idade superior a 60 anos. De acordo com um estudo longitudinal efectuado pela Universidade da Califórnia, 43% dos participantes admitiram sentimentos de isolamento e de solidão.

Após um período de 6 anos de seguimento da amostra, os mesmos participantes revelaram uma percentagem superior no que toca ao risco de morrerem mais cedo quando comparados com os participantes que se identificaram como mais integrados e com relações sociais mais próximas.

A maioria das pessoas que afirmaram sentirem-se sozinhas era casada ou vivia com outras pessoas, o que nos indica que estar sozinho e o sentimento de solidão não são a mesma coisa. A questão não parece estar na quantidade de relações estabelecidas, mas sim na qualidade das relações.

No presente estudo não foi explorado porque razão as pessoas se sentiam sozinhas, sendo este o próximo passo a ser dado ao nível da investigação. Desta forma será possível compreender se esta solidão tem razões biológicas, emocionais, sociais, e quais as intervenções mais adequadas para lidar com a mesma.

No entanto, os efeitos negativos da solidão não devem ser ignorados. Estudo anteriores remetem para a existência de uma ligação entre a solidão a longo prazo e  problemas cardíacos, pressão alta, fragilidade ao nível do sistema imunitário, depressão, dificuldades em dormir, diminuição das funções cognitivas e demência. Até então, os investigadores não conseguem compreender como pode a solidão prejudicar a saúde física e acelerar o processo de envelhecimento.

Esta “solidão crónica” pode ter origem num receio de rejeição, de não aceitação e de crítica por parte dos outros, sendo o isolamento uma saída mais fácil e confortável para evitar lidar constantemente com a angústia: “o que será que os outros pensam de mim?”.

Aos poucos, e com receio de confirmar no olhar dos outros uma profecia há muito tempo tida como certa para o próprio “eu não sou bom o suficiente”, a solidão instala-se, como alguém que visita de vez em quando, até que se muda de malas e bagagens passando a ser companheira de uma vida. Mas de um modo pouco científico e recorrendo á sabedoria popular, há muito que ouvimos dizer: mente sã, corpo são! O que não nos parece ser por acaso.

Parece haver de facto pessoas mais propensas a sentirem-se sozinhas do que outras, mas impreterivelmente com o passar dos anos a vida vai mudando consideravelmente, os filhos saem de casa, constituem as suas próprias famílias, chega a reforma, o ritmo de trabalho abranda, aos poucos tudo parece ficar sem sentido, os dias tornam-se longos e vazios.

Surge a necessidade de uma adaptação, da procura de novos interesses e áreas de desenvolvimento pessoal, social e familiar. Porque há realmente, em todos nós, uma capacidade de criação e reinvenção inesgotável, precisamos realmente de descobrir o que nos faz gostar de viver e manter viva a paixão pela vida, por nós próprios e pelos outros.

Para assinalar o Dia Mundial do Idoso damos-vos a conhecer este estudo acerca da solidão e dos seus efeitos a longo prazo, reforçando a mensagem que vivemos mais e melhor quando acompanhados, integrados e com o sentimento de valorização pessoal.

Posto isto, parece importante pensarmos: como é ser idoso em Portugal? Valorizamos nós os nossos Idosos? A idade é um posto que confere um diploma da escola da vida, mas por vezes, e infelizmente parece ser mais encarada como um peso do que uma mais valia. Muitos de nós seremos os idosos de amanhã, e como tal, talvez mereça a pena parar, pensar e re-olhar o que se passa à nossa volta.

Fonte: NY Times

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"A questão não parece estar na quantidade de relações estabelecidas, mas sim na qualidade das relações."