A adolescência é uma fase de mudança e a mudança, por si só, não é algo fácil de se vivenciar.

São muitos os desafios que se impõem neste momento da vida e, por vezes, o adolescente pode sentir que não consegue lidar com eles, acreditando que o caminho mais fácil para a resolução de todos os seus problemas é colocar o fim à sua vida.

Em Portugal, segundo dados de 2009 e 2010, suicida-se, em média, um adolescente por mês, sendo que o suicídio constitui a segunda causa de morte dos adolescentes, entre os 14 e os 24 anos, depois dos acidentes de viação. O que pode levar, então, um adolescente ao suicídio?

Segundo estudos recentes, as causas do suicídio relacionam-se com factores psicológicos, ambientais e sociais. Geralmente, a doença mental é o principal factor de risco para o suicídio e, dentro destas, o risco aumenta nas perturbações de depressão e abuso de substâncias. Existe um risco acrescido face a vivências stressantes, como problemas disciplinares, perdas pessoais, violência familiar, confusão na orientação sexual, abuso físico e/ou sexual e vitimização pelo bullying. De qualquer das formas, os factores de risco variam consoante género sexual, idade, grupo étnico, dinâmica familiar e acontecimentos traumáticos.

Apesar do suicídio ser um acontecimento raro e difícil de antever com alguma precisão, existem alguns sinais possíveis de se identificar, para os quais pais, familiares, educadores, professores e amigos devem estar atentos. No leque destes sinais é frequente encontrarmos:

– Referência à morte, dizendo que quer morrer ou desaparecer, fugir deste mundo para outro lugar e, inclusive, cometer algum acto auto-destrutivo (como, por exemplo, cortar-se);

– Sentimentos de luto face a uma perda recente por morte, divórcio, separação ou fim de um relacionamento;

– Mudança no modo de ser e de estar, tornando-se mais triste, mais irritável e irritado, ansioso, cansado, frequentemente indeciso e apático;

– Mudança no comportamento, apresentando dificuldades de concentração na escola e dificuldades na realização de tarefas diárias;

– Mudança nos padrões do sono, tendo insónias frequentes ou, pelo contrário, sonos muito longos;

– Mudança nos hábitos alimentares, revelando perda de apetite e emagrecimento ou, pelo contrário, aumento do apetite e de peso;

– Medo de perder o controlo, agindo muitas vezes sem pensar, magoando-se a si próprio e aos outros;

– Diminuição da auto-estima, sentindo-se sem valor, envergonhado, culpado, com a sensação de que “todos vão ficar melhor se eu não estiver cá”;

– Falta de esperança no futuro, acreditando que nada vai melhorar e/ou mudar.

Apesar de este assunto não ser um assunto fácil de ser falado, assumindo-se quase como um tabu, é fundamental que se criem espaços para o adolescente expressar os seus sentimentos e compreender que não está sozinho nesta luta. O apoio psicológico é muito importante nestes casos, pois permite que o adolescente consiga elaborar o que sente e o que pensa, compreendendo que há outros caminhos pelos quais ele pode seguir. É essencial que o adolescente não sucumba à ideia de fim, possibilitando-se que ele consiga recriar um novo modo de viver os desafios desta fase.

Fonte: APA

Andreia Cavaca

Andreia Cavaca

Directora Clínica | Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
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"O apoio psicológico é muito importante nestes casos, pois permite que o adolescente consiga elaborar o que sente e o que pensa, compreendendo que há outros caminhos pelos quais ele pode seguir."