Na era do imediato, das partilhas instantâneas e das conexões digitais, onde ficam os encontros verdadeiros? Seguimo-nos uns aos outros, mas será que nos vemos? Gostamos, comentamos, reagimos… mas será que nos escutamos?
Vivemos num tempo em que a presença virtual parece que se confunde com a proximidade emocional. As redes sociais criam pontes, encurtam distâncias e permitem-nos um contacto constante, mas não garantem o encontro genuíno, autêntico. A troca de mensagens substitui muitas vezes a conversa, o emoji ocupa o lugar da expressão facial e a resposta rápida preenche o espaço da reflexão profunda.
Na clínica, observamos cada vez mais os efeitos dessa mudança na qualidade das relações. A solidão, paradoxalmente, pode coexistir com centenas de “amigos” online. O vínculo, fundamental na construção da identidade e do bem-estar emocional, constrói-se na presença, na escuta activa, no que se diz e no que se não se diz, no que se sente e no que se percebe que o outro sente. Está na troca de olhares, no silêncio partilhado, na espera que acolhe e dá tempo ao pensamento.
O desafio actual é equilibrar estas novas formas de comunicação com a riqueza do encontro relacional. Como podemos usar as redes para fortalecer laços, sem que estes se reduzam apenas ao digital? Como preservar o tempo e o espaço para as relações que se constroem para além do ecrã?
As redes ligam-nos, mas será que nos aproximam?