A grande maioria das pessoas espera ansiosamente um ano para o momento em que o despertador não vai tocar, em que o trânsito não vai enlouquecer, em que o stress não vai fazer parte do dia e em que o cansaço vai ficar à porta – é o aguardado momento de férias.

Mas será que nesta altura tão esperada não haverá mesmo espaço para stress?

Assim que chega o calor, o nosso organismo dispara em reacções ansiosas: talvez porque nos apercebemos que se aproxima a altura tão esperada de não-fazer-nada e talvez porque reflectimos que a nossa bateria de energias necessita, urgentemente, de ser recarregada.

Enquanto chega-e-não-chega a data esperada, a vontade de trabalhar diminui e percebemo-nos menos produtivos. A nossa cabeça viaja pelo sonho e fantasia dos dias prometidos, a nossa concentração foca-se na roupa que vamos levar, no que é necessário comprar para nada ficar por terra, nas reservas que ainda não foram efectuadas e nos detalhes mais infímos que acreditamos que farão que tudo corra pelo melhor.

Ao reduzir a produtividade, aumenta o stress: “e não consegui acabar isto a tempo!, e o que se passa comigo?, estarei a ficar maluco?, preciso mesmo de férias!”.

Eis que chega o dia e está tudo pronto para embarcar neste momento tão esperado! Mal iniciamos a viagem pelas nossas férias, o choque! A adaptação a um novo ritmo de sono, a um diferente estilo de alimentação, à convivência com aqueles que apenas víamos no início e no fim do dia, ao dia completo de dolce far niente…

Quando parece que nos estamos a habituar, chega o momento de regressarmos ao trabalho! Ao regressar ao trabalho, regressa também o despertador que toca sem parar (porque o corpo não se quer levantar!), o trânsito que parece ainda estar mais louco que antes (pois a mente habituou-se a paz e sossego), o stress que quisemos retirar do dia-a-dia mas que, após reflexão, percebemos que permaneceu.

Novamente, o choque! E surge a necessidade de re-adaptação ao ritmo de sono, de alimentação, dos mails por responder, dos telefones que não param de tocar, do chefe a gritar, da colega a exigir, do cliente a refilar. Porém, apesar desta reflexão, todos nós precisamos de férias e todos nós as queremos gozar.

Então, como o fazer diminuindo os factores que podem desencadear o stress? Primeiro, tente relaxar umas semanas antes de entrar de férias. Crie oportunidades de lazer, para ir habituando o corpo e a mente ao estilo veraneante, pois as mudanças bruscas de ritmos podem conduzir o organismo a um esforço redobrado, aumentando o nível de cansaço e de stress.

Aproveite também para organizar e planear as férias de modo a que, nos primeiros dias, mantenha um ritmo um pouco mais acelerado do que o pretendido para as férias, para que assim o organismo se vá habituando.

Em relação ao sono, tente manter o quarto fresco e preservar um horário regular de adormecer e acordar. Quando nos encontramos muito stressados, o nosso descanso nocturno é um dos principais afectados. Por isso, use estratégias para tentar dormir melhor, como as indicadas anteriormente. Quando começar a sentir-se entristecido por estar a terminar o seu período de férias, canalize essa sua tristeza para reflexões construtivas acerca de si próprio.

Geralmente, o momento de pausa é um espaço ideal para mudanças pois permite o distanciamento crítico e a possibilidade de olharmos as coisas sob outras perspectivas. Aproveite a oportunidade! Assim que regressar ao trabalho, não se espante se ficar mais irritado, menos paciente e até melancólico.

Está de ressaca das férias, ou seja, pode estar a sofrer do tão afamado stress pós-férias! Irritabilidade, cansaço, tristeza, mau-humor e alterações do padrão de sono e alimentação são alguns dos sintomas descritos neste síndrome. No fundo, é o nosso corpo a readaptar-se a um ritmo de dever e rigidez quando esteve habituado a um ritmo de lazer e flexibilidade.

Mas então? Como regressar ao trabalho de modo mais tranquilo?

Primeiro, tente reservar o seu último dia de férias para reorganizar a sua vida de trabalho: arrumar as malas de viagens, guardar as recordações desses dias bem passados e organizar tudo o que necessita para trabalhar. Vá readaptando o seu ritmo de sono, tentanto reservar para os últimos dias de férias o horário de adormecer e acordar característico do período laboral.

Depois, não se deixe tentar pela pressão de recuperar o tempo perdido no trabalho, aquando das suas férias. Lembre-se que “devagar se vai ao longe” e que não vai ser por trabalhar o triplo na primeira semana, na expectativa de que tudo se resolva, que vai ter sucesso.

Leve os dias iniciais de trabalho com alguma tranquilidade, para que o seu corpo e a sua mente se adaptem, de novo, a esse ritmo. Por fim, não se deixe arrasar pelas saudades do tempo de férias! Valorize a importância daquele momento, aproveite para criar outras oportunidades de lazer (como actividades ao ar livre, ao fim-de-semana) e não se esqueça que, independemente de tudo, para o ano há mais!

Andreia Cavaca

Andreia Cavaca

Directora Clínica | Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
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"Quando parece que nos estamos a habituar, chega o momento de regressarmos ao trabalho!"