Este estudo pretendia avaliar o grau de exaustão emocional (cansaço emocional e físico, que conduz ao sentir não ter-se mais força para continuar a trabalhar a mesmo ritmo), de cinismo e descrença (relativamente aos estudos e à sua utilidade) bem como realização e eficácia profissional (apresentação, ou não, de dificuldades no cumprimento de tarefas pedidas pelos professores). Como conclusão do estudo, o investigador compreendeu que os estudantes do ensino superior de Lisboa apresentam níveis de exaustão física e emocional muito elevados e muita desmotivação, recorrendo, por vezes, a drogas e medicamentos para lidar com a situação.
De forma mais concreta, os resultados reflectem que mais de metade dos estudantes universitários apresentam baixa eficácia ou realização profissional, 18 % referem níveis elevados de cinismo e descrença na utilidade dos estudos e 21 % apresentam níveis de exaustão emocional muito elevados. Relativamente aos níveis de cinismo e de descrença, o investigador revela que os alunos referiam que diversas vezes parecia não ser possível “dar conta do recado” e que, talvez, não conseguissem fazer a disciplina e, possivelmente, nem o curso.
Face a isto, João Maroco reflecte a sua preocupação face ao abandono do curso, uma vez que esta é a consequência mais imediata destes elevados níveis de descrença. Concomitantemente com a exaustão emocional, surgem as dificuldades inerentes à situação sócio-económica actual do país, que se reflecte na dificuldade em suportar os valores financeiros relacionados com os estudos. Para lidar com tudo isto, o investigador refere que muitas vezes os alunos recorrem a substâncias psicotrópicas, a drogas e a variados medicamentos, alertando para uma porta aberta ao consumo e abuso de substâncias, no ensino superior. Em casos mais graves, podem desenvolver-se problemas do foro psíquicos e tentativas de suicídio. Segundo o investigador, é necessário alertar e sensibilizar os estudantes, a famílias e os professores para estas questões porque, relativamente ao burn-out e às consequências colaterais do mesmo, há muito pouca informação.
Segundo a presente investigação, os cursos que apresentam maior nível de burn-out são os de saúde e de ciências sociais; no lado oposto, encontram-se os cursos de engenharias. Independentemente do curso, do ano ou da faculdade, este estudo faz-nos pensar na verdadeira importância de olhar para os estudantes universitários e compreender a sua realidade interna, as suas dificuldades, os seus pedidos de ajuda que, por vezes, vêm embrulhados em atitudes e comportamentos que parecem pouco compreensíveis, à partida.
Recorrer a drogas e medicamentos constitui uma falsa resposta, pois apesar de parecer um caminho mais fácil, a médio e longo prazo mostra-se como um caminho ainda mais difícil de percorrer, levando a uma maior exaustão emocional e acentuando os sinais de burn-out iniciais.
Talvez a resposta seja parar; e pensar. No entanto, percebemos que parar e pensar, sozinho, pode ser, por vezes, assustador e aumentar o sentimento de que parece não haver alternativas. Dar este passo e procurar ajuda é mais um sinal de coragem do que um sinal de fraqueza. Estes períodos de balanço interior, bem com a descoberta de métodos de estudo eficazes, poderão proporcionar uma melhor vivência emocional e académica.
Fonte: Público