Educamos as nossas crianças para serem honestas, sinceras e verdadeiras; para estudarem as ciências exactas, a matemática, as leis da física e da química.

No entanto, desde pequenas que incutimos a ideia que existe um homem simpático, de barbas brancas e rechonchudo que, no Natal, conduz um trenó puxado pelas suas renas e que distribui presentes às crianças pelo mundo fora.

Será prejudicial fazermos as nossas crianças acreditarem no Pai Natal?

Embora seja recomendado que os pais sejam o mais honestos possível com as suas crianças, permitindo assim que se desenvolva uma relação baseada na confiança e que sirva de exemplo para as relações futuras, parece que em Dezembro pode ser aberta uma excepção. E porquê? Acreditar no Pai Natal é inofensivo e pode ser benéfico para o desenvolvimento cognitivo das crianças. Os contos de fadas e as histórias mágicas podem incentivar o desenvolvimento de um pensamento criativo, promover a consciência social e até a capacidade de compreensão científica.

Assim sendo, a mentira do Pai Natal é considerada uma “boa mentira”, em prol do bem-estar das crianças; algo muito diferente de quando a mentira é usada pelos pais para evitar assumir culpa e responsabilidade; por exemplo, quando naqueles dias em que não apetece sair do sofá, parece ser mais fácil dizer que hoje não podem ir ao jardim porque este está fechado do que explicar a verdade. Segundo Woolley, psicóloga da Universidade do Texas, em Austin, pela altura em que as crianças descobrem que o Pai Natal afinal não existe, ou seja, por volta dos 8 anos, já são capazes de discernir entre este dois tipos de mentiras e não ficarem ressentidos com os pais pela crença fomentada no Pai Natal.

Independentemente do nível de inteligência, estudos recentes revelam que as crianças que se encontram mais envolvidas em jogos de fantasia e imaginação são mais capazes de distinguir a aparência da realidade, de entender as expectativas dos outros, de perceber que as percepções de cada um dependem do contexto, de compreender melhor as emoções e, também, de desenvolver uma maior capacidade de criar cenários hipotéticos, que reforçam o raciocínio: e se as renas ficarem doentes, como é que o Pai Natal entrega as prendas? E se os duendes não terminarem de organizar as prendas, como será o Natal? Tudo isto se reflecte, na vida adulta, numa maior capacidade para pensar soluções, para criar ideias e para prever possíveis acontecimentos.

Deste modo, percebemos que permitir que crianças acreditem que existe um senhor de barba branca que se passeia pelos céus, sentado num trenó puxado a renas, com um saco cheio de prendas, poderá ter, no futuro, impacto no modo como se percepciona o mundo e como colocamos ao serviço do quotidiano o nosso lado mais criativo e imaginativo.

Fonte: Slate

Andreia Cavaca

Andreia Cavaca

Directora Clínica Área Psicoterapia, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
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"Embora seja recomendado que os pais sejam o mais honestos possível com as suas crianças, permitindo assim que se desenvolva uma relação baseada na confiança e que sirva de exemplo para as relações futuras, parece que em Dezembro pode ser aberta uma excepção. E porquê?"