Por vezes pode ser mais fácil acreditarmos que as crianças podem crescer sem necessidade de serem protegidas mas, o ser criança per si, não garante um escudo protector contra os traumas emocionais que podem sentir e experienciar ao longo da sua vida.

As crianças podem ser desafiadas a lidar com várias situações difíceis, desde o adaptar a uma nova escola, a situações de bullying ou até a viver num lar abusivo. A capacidade de crescer e ultrapassar todos estes desafios parece residir no que designamos por resiliência, ou seja, a capacidade de lidar de uma forma positiva, construtiva, com o trauma, tragédia, ameaças e com qualquer fonte significativa de stress.

No entanto, as crianças não nascem ensinadas, precisam ser guiadas, educadas e cuidadas pelos adultos que as rodeiam.

O desenvolvimento de capacidades de resiliência pode ajudar as crianças a gerir o stress, ansiedade e as incertezas com as quais se vão deparando. Mas, ser resiliente não quer dizer que as crianças não venham a sentir dificuldades ou stress. A dor emocional, a tristeza fazem parte da nossa vida, ficar triste pela mudança de escola, pela morte do animal de estimação ou até de uma pessoa importante da vida familiar é normal e desejável, o ser resiliente ou não, determinará como a criança irá lidar com esses sentimentos e como irá recuperar desse momento menos positivo.

Todos nós podemos desenvolver a capacidade de resiliência e ajudar as nossas crianças a desenvolvê-la. Aqui ficam algumas dicas que podem ser úteis para uma tarefa tão importante:

 

Estabelecer relações Ensinar à criança como pode fazer amigos, a ser empática e a ser capaz de se colocar no lugar do outro compreendendo os seus sentimentos. Encorajá-la a ser amiga para que tenha amigos. A construção de uma boa rede familiar é fundamental para ajudar a criança a ultrapassar as inevitáveis desilusões no seu dia-a-dia.

Ajudar para ser ajudado  Possibilitar o reconhecimento por parte da criança, que tem recursos que podem ser úteis para si e para os outros. Proporcionar à criança situações em que possa ajudar os outros e sentir-se útil, seja em casa ou na escola.

Manter uma rotina diária O manter uma rotina pode transmitir à criança um sentimento de segurança e conforto, sobretudo aos mais novos. Encorajá-la a adaptar-se às rotinas familiares mas dando-lhe espaço para que possa estabelecer as suas próprias rotinas.

Fazer uma pausa Embora seja importante ter rotinas, o estar sempre preocupada com o que fazer e como fazer pode ser contraproducente. Ensinar à criança a ser capaz de se focar em algo para além das suas preocupações. Procurar saber o que está a preocupar a criança é fundamental para que possa desmistificar os seus pensamentos e ajudá-la a fazer uma pausa e a dedicar-se a algo que lhe dê prazer.

Ser um bom exemplo Ensinar à criança a importância de manter uma vida saudável: boa alimentação, exercício e descanso q.b. Garanta que a criança tem tempo para divertir-se e que não tenha o horário totalmente preenchido sem tempo para poder relaxar. A brincadeira e a diversão proporcionam carregamentos de bons sentimentos que ajudarão a criança a estar mais equilibrada para lidar com situações mais stressantes.

Estabelecer metas e objectivos Ensinar à criança o estabelecimento de objectivos realísticos e a realizá-los um passo de cada vez. Ao manter-se focada num objectivo e nas pequenas conquistas em relação ao mesmo, ajudará a criança a valorizar o que consegue alcançar em detrimento do que não consegue, construindo assim a capacidade de ser persistente e pró-activa em situações difíceis e desafiantes.

Valorizar as capacidades positivas e fomentar o estabelecimento de uma boa auto-estima Ajude a criança a lembrar-se das vezes em que lidou com situações difíceis e foi bem sucedida, e ajude-a a perceber que estes desafios passados podem ajudá-la a tornar-se mais forte para lidar com os desafios que ainda estão por vir. Ajude-a a confiar em si própria no que toca à resolução de problemas e à tomada de decisão. Ensine-a a ver a vida com humor, a ser capaz de rir de si própria, o humor é uma ferramenta importante para lidar de forma positiva com o stress.

Manter a perspectiva e um olhar esperançoso perante a vida Quando a criança está a deparar-se com situações penosas, ajude-a a olhar para o contexto de diferentes perspectivas e com um olhar a longo prazo. Apesar das crianças muitos pequenas terem dificuldade em descentraram-se do momento que estão a viver, ajuda-as a perceber que existe um futuro para além da situação presente e que esse futuro pode ser bom, apesar da vivência de um momento menos bom no aqui e agora. O desenvolvimento de um olhar optimista possibilita à criança a capacidade para ver o que a vida tem de bom e a não desistir quando a vida se torna mais complicada.

Procurar oportunidades que possibilitem a auto descoberta Tempos difíceis geralmente proporcionam uma maior aprendizagem acerca de nós próprios. Ajude a criança a perceber que perante um desafio pode aprender mais acerca de si próprio, permitindo um progressivo auto-conhecimento.

Aceitar a mudança como algo natural ao longo da vida A mudança pode ser sentida como assustadora para as crianças e adolescentes. Ajude a criança a compreender que mudar faz parte da vida, assim como o estabelecimento de novos objectivos e o pôr de parte objectivos que não foram concretizados ou que deixaram de fazer sentido.

No entanto, esta tarefa pode tornar-se mais desafiante quando lidamos com crianças muito pequenas, crianças que estão ainda a aprender a andar e a falar, não sendo capazes ainda de expressar as suas ansiedades e medos. Embora possa pensar que são ainda muito pequenas para compreender o que se passa, são desde muito cedo capazes de absorver sentimentos de ansiedade e de medo das pessoas que estão à sua volta.

Torna-se fundamental conhecer a sua criança, perceber quais os sinais de medo e ansiedade.  A criança tornou-se demasiado exigente? A exigir mais carinho e contacto físico do que o habitual? Começou a fazer xixi na cama? A chuchar no dedo depois de ter deixado de o fazer? A criança pode estar a reagir a sentimentos de pressão e ansiedade que sente no mundo que a rodeia ou até assustada com um mundo ainda por conhecer.

Use a brincadeira para ajudar a criança a expressar os seus medos e encoraje a criatividade, a arte, o jogo para que possa expressar os seus sentimentos para além das palavras que ainda não domina. Apesar de não haverem fórmulas mágicas de como educar e preparar uma criança para a vida, sabemos que a família é um apoio fundamental: fortaleça os laços familiares, brinque, leia, procure ter tempo de qualidade com os seus filhos, conheça-os e dê-se a conhecer.

É no desenvolvimento desta relação segura aquando os primeiros anos de vida com os que a rodeiam, e posteriormente consigo própria, que se edifica uma boa capacidade de resiliência. Afinal, todos nós num primeiro momento, precisámos de andar acompanhados para podermos andar connosco próprios.

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"No entanto, as crianças não nascem ensinadas, precisam ser guiadas, educadas e cuidadas pelos adultos que as rodeiam."