Vivemos na era do consumo descomedido, em que para estarmos felizes temos que “ter”, consumir, comprar bens materiais, em detrimento do ser, do investimento de uma plenitude que deveria vir de dentro de nós. Será possível comprar “felicidade”? Se sim, a que preço? Ao pormos a questão desta maneira, podemos cair no erro de estar a simplificar e a tornar básica a complexidade emocional que nos distingue.
Para além de felizes, também nos sentimos, regularmente, nostálgicos, ansiosos e stressados. Apesar de comuns, parece haver uma menor tolerância para tais sentimentos, como se não fosse normal senti-los.
Esquecemo-nos que os sentimentos negativos têm também o seu papel no nosso equilíbrio emocional, constituem sinais relativamente ao nosso bem-estar em diversas áreas da nossa vida (pessoal, social e familiar) e contribuem fortemente para nos empenharmos na mudança e na conquista de objectivos a médio e longo prazo.
Onde nos poderá levar esta obsessão pela felicidade? Será saudável erradicarmos da nossa vida o espaço para estarmos tristes? Ao não mostramos como verdadeiramente nos sentimos, como podem as pessoas à nossa volta percebê-lo e darem-nos o seu apoio?
As investigações nesta área mostram-nos que as pessoas que tendem a esconder a sua tristeza, os seus sentimentos negativos, estão mais propensas a desenvolver estados depressivos continuados, revelando uma diminuição da auto-estima e do bem-estar.
A pressão para aparentar uma extrema felicidade parece conduzir ao sentimento de incapacidade quando surge a tristeza, como se não fosse suposto, “normal”, o que nos pode levar a sentir pior ainda.
Não há nada mais desgastante do que termos que demonstrar algo que não estamos a sentir, algo que no fundo não somos. Mas que devemos fazer? Assumirmos a tristeza, o fado e aceitar o destino? Também não parece ser a solução. O segredo pode, então, passar pela capacidade de aceitação das emoções como um todo, fazendo parte de nós.
É normal estarmos tristes, desiludidos, frustrados de vez em quando, tão normal como estarmos felizes, realizados e apaixonados. Parece, assim, que é no meio que está a virtude!
As histórias perfeitas pertencem aos livros com os finais felizes, a vida tem altos e baixos, oferece-nos tanto de bom como de mau, e se obstinarmos numa busca pela perfeição corremos o risco de deixá-la passar sem nunca sermos felizes, vivendo a esperança de uma ilusão.
Fonte: The Conversation