Mesmo nos casos em que o divórcio possa ser encarado pelo casal como algo positivo e que melhorará a vida de ambos, é inevitável pensar que este não será sempre um momento vivido com alguma tristeza e sofrimento.
Existe uma quebra de rotina, uma transição de vida, uma mudança. Um processo de luto de algo que foi e deixou de ser. Uma reformulação de vida. Tudo isto é sentido pelos adultos; e as crianças, o que será que sentem?
Não devemos partir do pressuposto que as crianças passam isentas à separação, que não sentem o fim de forma semelhante que o casal e que tampouco desenvolvem sentimentos como tristeza, angústia ou luto. Pelo contrário, também as crianças sentem esta separação e, algumas, de forma mais vulnerável e sensível que os próprios pais.
Também os filhos, tal como os pais, têm que reformular a sua vida e dar um novo sentido à mesma. Por isso, é importante que o casal esteja harmonicamente preocupado com os filhos e que consiga, em conjunto, ajuda-los a compreender a situação e a ultrapassá-la da melhor forma possível.
Como preparar então as crianças para a separação dos pais?
1. Não esconda nada e converse!
Desde tenra idade, a criança é perspicaz o suficiente para entender a realidade. Posto isto, não se torna uma solução viável esconder dos seus filhos a sua intenção de se divorciar. É importante que, com calma e simplicidade, vá partilhando com os seus filhos o momento actual, no sentido de os preparar e de os envolver nesta nova fase de vida.
Conversar abertamente com os seus filhos, sublinhando que o divórcio dos pais não implica, em situação alguma, a separação emocional entre pais-filhos, poderá possibilitar a abertura de um campo de compreensão e entendimento na criança, que facilitará a integração desta mudança.
Algumas crianças (e quanto mais pequenas, maior poderá ser a tendência para) podem considerar que a separação dos pais é culpa delas. É vital que converse sobre estes sentimentos com os seus filhos, desmistificando-os e explicando as verdadeiras razões da separação. Aqui, não se torna muito benéfico explicar, detalhadamente, as causas do divórcio; é aconselhável que o faça mas de forma clara e simples.
Por outro lado, também é importante que as crianças percebam que não precisam de escolher lados, ou seja, que podem continuar a gostar do pai e da mãe da mesma forma (e que os pais continuarão a gostar delas, da mesma forma também).
As conversas com os filhos e mesmo entre casal devem ser rodeadas de um ambiente tranquilo e isento de discussão. Quanto mais amigável for a separação, menos consequências negativas poderão surgir, para ambas as partes. Evite culpar um dos parceiros, converse tranquilamente e sem zanga.
2. Aguente as reacções
É natural que as crianças reajam; pouco natural seria não existirem consequências. Por isso, é importante que sinta e que transpareça que aguenta com as reacções dos seus filhos, bem como permitir tempo e espaço para que as mesmas aconteçam.
Algumas crianças podem desenvolver comportamentos regressivos (por exemplo, voltar a falar à bebé, fazer xixi na cama, querer dormir com a mãe ou com o pai, recusar ir à escola) e/ou comportamentos agressivos, normalmente voltados para o progenitor com quem vive.
Poderão surgir ataques, julgamentos, discussões, atribuições de culpa. Podem desenvolver sentimentos de perda, de abandono, podem sentir-se incrédulas e até negar a situação. É essencial que suporte (por muito difícil que, por vezes, possa ser) estes comportamentos e que, todos os dias, dedique algum tempo a conversar com os seus filhos, dando-lhes a oportunidade de verbalizar os seus sentimentos, os seus medos e receios, os seus pensamentos.
3. Passe tempo de qualidade com os seus filhos
Se era fulcral passar tempo de qualidade com os seus filhos enquanto casal, torna-se ainda mais essencial que o continue a fazer mesmo após o divórcio. O facto de se terem separado, enquanto casal, não deverá influenciar as relações que têm, enquanto pais, com a criança.
Quando menos alterações existirem na relação pais-filhos, melhor será vivenciado este momento delicado.
Neste sentido, é aconselhável também que o dia-a-dia das crianças se mantenha, o mais semelhante possível, ao que era antes da separação. Por exemplo, se era o pai a levar os filhos à escola seria benéfico, caso fosse possível, continuar a ser o pai a realizar esta tarefa.
4. Avise os professores e educadores
Faça dos agentes educativos, seus aliados; explique-lhes a fase em que se encontram os seus filhos e como, enquanto pai, se encontra preocupado que tal possa influenciar o rendimento escolar deles. Mantenha-se atento às reacções dos mesmos face à escola e fale regularmente com o professor ou com o educador.
5. Não faça!
Existem uma série de comportamentos que, de maneira alguma, deve fazer em frente dos seus filhos. Evitá-los a todo o custo poderá ajudar os seus filhos a ultrapassarem da melhor forma possível este momento.
Assim, são eles:
– não discutir à frente dos seus filhos;
– não prolongar eternamente o processo de divórcio (quanto mais rápido, melhor!);
– não culpar as crianças da separação;
– não se tornar demasiado permissivo (mantenha a palavra “não” no activo);
– não transformar os seus filhos no seu melhor amigo (não desabafe com eles, não lhes conte confidências, não os trate como adultos);
– não fazer dos seus filhos pombos correio (se tem algo a dizer ao seu ex-companheiro(a), faça-o directamente, por telefone, sms ou até carta – nunca use os seus filhos como mensageiros);
– não denigrir a imagem do outro progenitor;
– não afirmar factos que não sabe que não vão acontecer (por exemplo, não diga “nunca me voltarei a casar” ou “não quero nunca mais ninguém ao meu lado”).
Acima de tudo, é fundamental que compreenda, enquanto pai/mãe e adulto, que não é o divórcio em si que poderá ter consequências negativas quer para o casal como para as crianças: é a forma como o divórcio é conduzido, é o modo como o casal se separa. Por isso, se tentou ter um bom casamento, tente também ter um bom divórcio.
Para marcar um aconselhamento mais personalizado clique aqui.