Educar é, acima de tudo, amar. E amar é, também, a capacidade de impor limites. E porquê?

Os limites servem para a criança compreender que nem sempre vai conseguir ter ou fazer o que deseja, desenvolvendo e amadurecendo a capacidade de tolerância à frustração. Esta capacidade é essencial para, enquanto adulto, enfrentar os desafios da vida quotidiana.

Actualmente, é frequente observarmos crianças com grande poder sobre os pais, poder este concedido pelo receio dos pais em contrariarem os filhos.

Tal acontece por várias razões, entre elas: o receio de provocar traumas psicológicos (que é um receio que deverá desvanecer no momento em que se percebe que impor limites é um acto de amor); a culpabilidade sentida pelos pais por se perceberem cada vez menos disponíveis para a família, principalmente por motivos laborais (e esta culpabilidade dos pais conduz a uma necessidade de agradar os filhos, respondendo positivamente a todos os pedidos deles); a dificuldade que é, de facto, contrariar uma criança e todas as consequências que vêm desse “não” (desde birras, zangas, amuos…).

No entanto, ao iniciar-se este ciclo de permissão abusiva observa-se o desenvolvimento de uma criança “tirana”, que não respeita o outro e a sua vontade, com uma capacidade diminuta de reflectir sobre a acção e, acima de tudo, com baixa tolerância à frustração.

No fundo, a educação excessivamente permissiva nega à criança a possibilidade de crescer com consciência de ser capaz de gerir obstáculos e desafios, o que poderá conduzir a grandes dificuldades na vida adulta. Por isso, é essencial que a criança enfrente situações de resistência, onde os seus impulsos não podem ser satisfeitos, para que com isto desenvolva a capacidade de resiliência, ou seja, de resistir à frustração.

Mas, como dizer “não”?

Os limites são impostos através do diálogo e da estimulação da capacidade da criança de pensar sobre o desejo e impulso que a move. Devem-se evitar os “não” sem justificação, os “não” porque “eu também não tive quando era criança”, os “não” porque “és muito pequeno para compreender” e os “não” porque “eu quero e sou eu que mando”.

Para se compreender melhor esta dinâmica, basta pensar-se num adulto que deseja realizar um desejo qualquer mas que, por circunstâncias do momento, não pode. Este adulto vai querer perceber porque não pode, o que o impede, para compreender a resistência e lidar com a frustração. O mesmo acontece com as crianças, que necessitam de compreender o que as impede. Saber esperar e tolerar a frustração são aspectos fulcrais para o equilíbrio emocional.

Compreende-se, assim, a importância de dizer “não” às crianças, como meio para que elas orientem o seu desenvolvimento enquanto pessoas, para que limitem as suas acções, para que compreendam o que é importante ou não; e as crianças esperam que os pais, com a sua sabedoria adulta, possam garantir este crescimento saudável.

Andreia Cavaca

Andreia Cavaca

Directora Clínica | Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
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"Ao iniciar-se este ciclo de permissão abusiva observa-se o desenvolvimento de uma criança “tirana”."